segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Reboot

A minha relação com Elvis Costello esquematiza-se assim:

Momento 1 - Pessoas bem formadas dizem-me que o Elvis Costello é uma pessoa muito importante nisto da música. Em paralelo, listas diversas e diversas histórias da música popular dizem-me que alguns discos do Elvis Costello são muito importantes.

Momento 2 - Ouço uns quantos álbuns, com esforço; à terceira ou quarta música concluo que não percebo nada disto. Para além de me aborrecer muito, não consigo entender o que há ali de assinalável.

Momento 3 - Uma rádio passa uma canção bem esgalhada que mistura um rock lo-fi de bom gosto com um sentido de soul raro, paro o que estou a fazer, ouço até ao fim e concentro-me para ouvir com atenção o que diz o radialista no final. O radialista diz "estivemos com Elvis Costello, etc. etc.".

Momento 4 - ah...

Momento 5 - regresso ao Momento 2 e assim por diante.

Este fim-de-semana deu-se um destes Momento 3 e ouvi o I Want You (segundo me contou o agregado familiar, posso ser a única pessoa viva que nunca a ouviu e parece que há uma famosa versão cantada pela Fiona Apple). Uma interpretação tão teatralmente sofrida raramente faz alguma coisa por mim, mas aqui está tudo bem com isso. Há ainda um conjunto de pormenores importante: julgo que não sou só eu que pensa imediatamente no I Want You (she's so heavy) de Beatles.

Se repararem bem, as duas têm o título I Want You e foi este pormenor praticamente indetectável que me alertou para o restante. Há também em ambas o tema comum, a interpretação quase demasiado pessoal, repetição hipnótica (quer de palavras, quer do riff e ritmo), uma duração muito mais longa do que o habitual (pelo menos no habitual dos Beatles).

Mas uma não é uma versão da outra e estamos longe de plágio ou sugestão mesmo que a um nível muito tangencial. Se calhar sou obrigado a concluir que, intencional ou não, estou pela primeira vez perante um remake de uma canção. 

4 comentários:

Um Proust Cai Sempre Bem disse...

Epá, percebo isso tudo tão bem; sendo que eu é que não percebo nada disto.
E também não preciso de perceber nada de especial para achar que a mulher do gajo é das piores cantoras da a̶c̶t̶u̶a̶l̶i̶d̶a̶d̶e̶ sempre, uma caca, e não tem pingo de swing.
Tudo misturado, leva a que lhe tenha um certo pó. Mas enfimmmm.

Sérgio disse...

Nem me digas nada. O maior desgosto da minha vida foi quando o Woody Allen a meteu num filme (o Anything Else).

Menina Limão disse...

Grande momento, o 4º.

Sérgio disse...

acontece-me muito, e não só com o Elvis.