Florence (Greta Gerwig) é uma rapariga mais gira que feia, mais gordinha que magra (Roger Greenberg, a personagem de Ben Stiller, consegue descrevê-la nos mesmos termos mas de forma ainda mais ofensiva do que eu). Entre estes mais e menos pode continuar-se a defini-la numa notável mediania até atingir em cheio a pessoa para quem se inventou a cretina frase "merece ser feliz".
Florence, que escolhe mal os homens, que é magoada em silêncio, que faz planos, que tem amigas para quem tudo parece mais simples, que diz das suas one-night-stands "I've gotta stop doing things just because they feel good", e que, sobretudo, nunca é o problema de ninguém, é demasiado familiar para quem se lembrar de Fast Times at Ridgemont High por uma razão mais do que o espectacular Spicolli de Sean Penn. Dez anos mais nova, Stacy (Jennifer Jason Leigh há 30 anos), é esta mesma Florence, que tragicamente ainda tem sexo trapalhão, e ainda enfrenta ou resolve os problemas (extraordinariamente semelhantes) com resignação triste. Escrever "ainda" tantas vezes talvez seja demasiada boa vontade, mas depois de imaginar Florence como Stacy dez anos mais velha, voltar atrás é como tentar deixar de ver a imagem de um estereograma.
Certo, nunca saberei se, caso Jennifer Jason Leigh não tivesse escrito e produzido Greenberg com Noah Baumbach, esta associação teria chegado a existir, mas há muito mais de prelúdio dos temas de Baumbach em Fast Times do que de típico filme de liceu. Sem esforço junta-se Fast Times, Kicking and Screaming e Greenberg numa trilogia de geração, arrancando para subtítulo o recado que Ivan (Rhys Ifans) dá a Roger quando por fim perde a paciência: It is huge to finally embrace the life you never planned on.