Jumping the shark é uma, digamos, técnica muito comum para salvar séries em agonia e levá-las a mais uma ou duas preciosas temporadas. Matar personagens, trazer novas, substituir actores, mudar de cidade, pôr um casal na cama, convidados especiais, fazer um filme são os exemplos mais comuns e, claro, a maior parte corre muito mal. Há séries, como o West Wing, de quem nunca se esperaria um jump the shark e que ainda assim deixam o pobre espectador ser obrigado a ver o Toby a chorar e a pedir para não ficar sozinho (pelo amor de Deus), e outras que, parecendo todo um longo jump the shark desde o piloto - o Lost - nunca em momento nenhum, garanto, saltaram uma faneca sequer. Sobretudo não se deve levar a mal a um escritor ter que saltar o que quer que seja. Às vezes a vida corre bem outras vezes não, mas não é por termos visto com horror a Maddie e o David a entregarem-se ao amor que deixamos de ter saudades das terças-feiras de Modelo e Detective.
A quarta temporada de Dexter acabou este domingo com o maior jump the shark desta década. Dito isto, o Dexter é uma série competente com uma primeira temporada melhor do que a maior parte das outras coisas, e que está a passar no tempo certo. É um daqueles casos da televisão que só pode existir porque os Simpsons nasceram há vinte anos. Fica assim toda a gente muito divertida e satisfeita com sugestões de sangue por todo o lado e salas cheias de sangue e piadas com sangue e por aí fora (já há trens de cozinha Dexter). Entendo que a segunda temporada era necessária, embora tenha sido o primeiro de uma longa série de jump-the-sharks, mas a partir da terceira acabou-se tudo e passámos à repetição de histórias patetas de um serial killer querido.
Como se não fosse suficiente, despareceu lentamente (ou abruptamente, sinceramente não sei dizer) um pormenor que me fazia simpatizar especialmente com aquelas personagens. Todos suavam. Estamos em Miami e seja agentes a trabalhar, pessoas a passear, assassinos a atravessar a estrada, todos tinham a camisa suada. Há situações que nunca acontecem nos ecrãs, como suar, formatar o disco ou fazer um refogado (mas o Clemenza explica devagarinho como se faz molho de tomate no primeiro Padrinho, abençoado) e deviam ser mais frequentes. Mesmo assim alguém achou que o Dexter precisava de mais família e menos sudação, uma asneira que certamente fez baixar dramaticamente as audiências e nos trouxe a estes dois últimos minutos do último episódio. Enfim, vale-lhe ainda o melhor genérico da televisão.
1 comentário:
O seu post trouxe-me alguma "closure" nesta questão, ainda mal refeito do choque do final desta quarta temporada de uma série que de facto já não trazia nada de novo, mas que era fácil continuar a ver. Talvez fosse por causa do genérico, verdade. Se bem que o melhor genérico que por aí anda é o do true blood.
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