sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Gomes de Sá

Mais coisa menos coisa só há uma mentira a evitar num curriculum vitae: o domínio de linguas estrangeiras. É uma mentira que não sobrevive ao primeiro teste, embora este seja também o último, para o bem ou para o mal. Também na cozinha é aconselhada prudência no momento de vender o talento, mas neste caso o teste pode durar anos até convencer a população. Não é que se defenda uma modéstia nojenta, pelo contrário, mas é fundamental evitar frases como a da experiências na cozinha ou o talvez mais grave eu não sigo receitas. No fundo, evitar o ridículo com mais violência ainda do que quando se escreve um post ou um livro (reparem na liberdade da minha amplitude).

Não defendendo a modéstia, pode defender-se a humildade que deriva da conhecida premissa muito simples de que, de entre quem sabe o que está a fazer, só há três classes de pessoas numa cozinha. A primeira é a das que cozinham segundo uma receita, e nesta estamos praticamente todos nós, não vamos ter ilusões. Pode fazer-se uma vida digna dentro desta categoria e estar muito acima de uma grande franja da população sem nenhuma vergonha. Os segundos, raros, são os que conseguem alterar uma receita para alguma coisa diferente. Com algum talento talvez tão boa como a original, com bastante, melhor. A última é a das que criam um novo prato e estas são pessoas que estão bem identificadas e têm uma carreira. Quem não estiver disposto a aceitar isto vai ter uma vida se não mais difícil, por certo mais arriscada.