Há uma peça em cena em Lisboa, chamada Design for Living, que foi escrita e interpretada nos anos 30 por Noël Coward. O texto tem um ambiente extremamente familiar que não vem só da sua qualidade intemporal (nunca deixará de haver triângulos amorosos nem uma elite intelectual auto-excluída do povo) mas por antecipar em 40 anos e de forma extraordinária o molde que Woody Allen nunca mais deixou de usar.
Nem o mais experimentado crítico conseguiria saber qual dos autores escreveu a cena que junta uma decoradora de interiores, o seu marido muito mais velho, culto comerciante de arte, uma senhora que compra obras indiscriminadamente e um casal cuja mulher quer muito pertencer àquela gente ao contrário do marido que, fazendo-lhe a vontade, não demonstra qualquer pachorra para a pedantice instalada no apartamento caro de Nova Iorque onde se encontram depois da ópera.
Nunca perceberei o que levou a este cansaço generalizado que as pessoas parecem ter pela insistência de Woody Allen em fazer o mesmo filme todos os anos. Se não fosse por outra razão que não a gratidão (sou sensível a este argumento), a população não se devia deixar levar pelos insuportáveis lamentos de que no tempo de Hannah e Suas Irmãs e Manhattan é que era, o que na verdade não faz mais do que as transformar nas mesmas personagens que Allen coloca na fila do cinema em Annie Hall. No que me diz respeito, só em anos muito extraordinários é que um seu filme não entrou nos meus dez melhores em Dezembro.
1 comentário:
Não te disse, mas pensei no Woody Allen durante essa cena. O que é super, ainda que não tão super quanto este post.
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