Foi preciso viver e esperar muitos anos para descobrir o pior disco de música popular alguma vez gravado. Como bónus, cada exemplar inclui a pior versão de sempre de uma canção popular já de si muito má.
Não estamos a falar de maldade que, por ser tão má, até tem graça, nem que seja para nos rirmos dela. Não. Esta é uma vileza musical que nos deprime e angustia. O cantor é bom, os músicos são bons e as canções são boas (excepto a tal, chamada Inch Worm). Só os resultados da conjunção de tantas bondades é que repugna. Só as vítimas deste melocídio saberão que estou a ganir por causa de Kisses On The Bottom, o nome de pior gosto posto por um dos poucos génios da música pop (Paul McCartney).
Chegou a altura de dizer o indizível: o último disco genial dos Beatles foi Revolver. E não era todo bom. Nenhum dos ex-Beatles - mesmo John Lennon - fez um disco melhor do que qualquer disco dos Beatles, incluindo os últimos e menos bons. Ringo Starr fez sempre álbuns horríveis. Mas nenhum é tão mau como o último (Deus queira) de Paul McCartney.
O pior de Kisses On The Bottom é que, por ser tão mau, destrói retroactivamente as grandes canções e interpretações dele. É horrendo. Provoca doenças nos ouvidos. É um desrespeito e um castigo.
Como é que é possível? Ninguém sabe. Nem sequer Satanás. Nunca nada foi tão mal cantado ou ofendeu mais. Que grande merda. Se precisarem de vomitar, usem o emético The Glory of Love. Pobre, malvado McCartney.
Miguel Esteves Cardoso, no Público de 2/3/2012, um copy-paste facilitado pelo MacGuffin.
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