quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

The Oscar always goes to

Não há muitas histórias simpáticas sobre Louis B. Mayer, fundador da MGM. Há mais sobre a imposição de contratos aos actores ou do entusiasmo com que recebeu o Código Hays do que boas recordações. Nem sequer foi com boas intenções que fez força para que nascesse a Academia. Serviu primeiro para meter no lugar os sindicatos de técnicos que então davam as primeiras chatices e criar um espírito corporativo entre actores, realizadores, produtores e argumentistas. Poucos anos depois, também estes (excepto os produtores, evidentemente) viriam a criar os seus sindicatos, pelo que esse propósito inicial de união morreu logo ali. Mas, dada a derrapagem moral a que os filmes pareciam estar a ceder, a entrega de prémios anuais para os melhores do ano haveria de trazer um propósito de integridade às produções dos estúdios. Esta intenção em 1927 não tem nada de estranho, mas que tenha chegado aos dias de hoje quase intocada sim. Talvez não seja assim tão notável. Afinal, o propósito da Academia foi, antes de outro qualquer, servir e proteger a indústria, e claro que ainda é assim (seja com Michelle Obama a explicar-nos o sonho do cinema, seja com mais uma tentativa trapalhona de trazer de volta o tempo de ouro dos musicais).

Se o melhor truque do diabo foi convencer-nos que não existe, o melhor truque da Academia foi convencer-nos que está em causa o melhor filme do ano, o que deve explicar porque tenho sempre tantos colegas na manhã seguinte a latejar a revolta por mais uma escolha extremamente injusta, ano após ano. Só não foi sempre assim se quisermos acreditar numa das boas lendas de Holywood e de Mayer: na primeira edição dos Oscares, ao saber da decisão do júri, que pretendia atribuir a Melhor Produção Artística a The Crowd de Kind Vidor (um bom filme, não obstante) e produzido pela sua MGM, não abandonou a sala até convencer os jurados a entregar o prémio a Sunrise,  do rival William Fox. Não terá sido a última vez que um Oscar foi bem atribuído (acho eu), mas duvido que se tenha voltado a permitir cedências destas a critérios românticos disparatados, mesmo que vindos do chefe.

1 comentário:

Menina Limão disse...

Ufas, tanto tempo para saber a resposta à pergunta do post anterior. Ainda bem que podemos passar esta situação à frente.